sexta-feira, 27 de abril de 2007

Hoje, cotas raciais. No futuro, cotas genômicas?

Poderemos ser discriminados pelo nosso DNA? Será possível invadir nossa privacidade genômica?

As cotas raciais levantaram uma questão muito complexa sobre um assunto polêmico: a discriminação. E no futuro? Será que não poderemos ser discriminados ou beneficiados de acordo com nossos genes? Da mesma maneira que os hackers invadem nossos computadores, será que não haverá uma invasão ao nosso genoma? Poderemos salvaguardar a nossa privacidade genômica?Você deve estar pensando, que isso é uma ficção científica... mas, na realidade, poderá acontecer mais cedo do que imaginamos. Se possuirmos familiares afetados com doenças genéticas de início tardio, como a coréia de Huntington ou ataxias espinocerebelares (que levam à perda da coordenação motora e capacidade de locomoção, em geral após os 40 anos de idade), os testes genéticos, hoje, permitem saber se somos portadores das mutações que causam essas doenças e prever se seremos ou não comprometidos, décadas antes do aparecimento dos sintomas. O estudo dos nossos genes permite também saber se temos uma predisposição aumentada para várias doenças, como o mal de Alzheimer ou certos tipos de câncer. Nossa filosofia, no Centro de Estudos do Genoma Humano, é o de não testar pessoas (clinicamente normais) para doenças de início tardio, ainda sem tratamento, porque isso só lhes traria angústia, sem nenhum benefício. Entretanto, você já imaginou como as companhias de seguro-saúde ou os empregadores gostariam de saber se vamos ter doenças de alto custo, ou que poderão atrapalhar o nosso desempenho futuro?- Posso me recusar a tirar sangue e pronto! - dirá você - Sou eu quem decide se quero ou não ser testado!Ingenuidade sua. O nosso DNA é mais acessível do que você supõe: deixamos restos de DNA por toda parte. No copo onde bebemos água depois de ir à academia, ou no cigarro que fumamos após o almoço, por exemplo.Recentemente, um funcionário de uma grande empresa na Holanda começou a mandar cartas anônimas (e ameaçadoras) à chefia. Enviava as cartas através de caixas postais diferentes, e certamente achava que nunca seria descoberto... Mero engano!Logo foi identificado por um geneticista, que usou a seguinte estratégia: coletou restos de saliva (presentes na região de fecho postal) e, assim, foi fácil traçar o perfil genético do mandante. Restava saber, enfim, a quem tal perfil pertencia. Para isso, os funcionários foram convidados a reuniões, onde lhes era servido café. Em uma delas (após coleta e análise dos copos utilizados), encontrou-se a pessoa cujo DNA era o mesmo do encontrado na carta... e matou-se a charada! Isso não acontece só na Holanda, um fato semelhante aconteceu no Brasil.Lembram-se do seqüestro de Pedrinho, levado da maternidade por uma mulher de Goiás, Wilma, que se dizia sua mãe? Quando se desvendou o crime, surgiram suspeitas a respeito de Roberta (irmã de criação de Pedrinho): teria ela sido também seqüestrada ao nascer?Roberta, na época, tinha 24 anos e declarou que “não queria” saber. Entretanto, ao depor na polícia, jogou fora (distraidamente, é claro) “bitucas” de cigarro. A partir delas, foi possível extrair seu DNA... Qual foi o desfecho? Descobriu-se um novo seqüestro, ela não era filha biológica de Wilma.Sua privacidade havia sido violada, sem o seu consentimento. Será que para ela, foi vantajoso ou não? E o direito de não saber?Trabalhos recentes sugerem que cada um de nós é portador de pelo menos 300 mutações, que podem (ou não) significar um risco aumentado para certas doenças.Os avanços científicos vão permitir que se conheça, cada vez mais, os nossos genes. É uma informação que só diz respeito a nós. Mas como garantir que isso aconteça? Como impedir que haja uma invasão do nosso genoma, e essas informações se tornem públicas? Como impedir nossa discriminação genômica? Não sabemos. Queremos que você reflita, que questione, que se sinta incomodado. Talvez pensando juntos cheguemos a alguma resposta.
Mayana Zatz

2 comentários:

Leandro Gonçalves disse...

Bem até mesmo eu gostei do Texto. Super didático e com uma linguagem bem fácil.
Leandro você está de Parabéns!!!

Anônimo disse...

Showwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww